AEQUALITAS
terça-feira, março 08, 2016
Olá meninas e meninos,
Durante o dia de hoje fui colocando algumas "quotes" nas redes sociais, mas hoje decidi escrever um texto sobre o que me vai na alma!
Sei bem que hoje é o Dia Internacional da Mulher, mas não
vim aqui celebrar as mulheres (apesar de acreditar que devem ser celebradas
sempre, tanto os homens como as mulheres), mas vim falar de igualdade, vim
falar daquilo que considero ser o feminismo.
Quando comento com alguém que sou feminista normalmente
recebo reacções de desconfiança, seja de homens ou mulheres, porque infelizmente
para muitos/muitas ser feminista é ser contra os homens, mas para mim é ser
igual aos homens, ter as mesmas oportunidades, direitos e deveres. Vocês podem
pensar “mas em Portugal temos igualdade, homens e mulheres são iguais perante a
lei, pagamos impostos iguais, trabalhamos nos mesmos locais, etc e etc”, mas a
verdade é que a desigualdade ainda existe, e o pior existe sobretudo no dia-a-dia,
existe no “normal”, no “hábito”. Por exemplo um comentário muito inocente entre
amigas - “tens muita sorte porque o teu namorado ajuda-te nas tarefas domésticas”… Perceberam o “ajuda-TE”,
como se a obrigação fosse minha e o Sr. Batata Quase Casado “me” fizesse um favor?
Não há favores!! Somos ambos adultos, responsáveis e temos os mesmos direitos e
deveres, por isso, não é “sorte”, é igualdade! Este exemplo pode parecer “corriqueiro”
ou até “normal”, mas a verdade é que são estes comentários que perpetuam a
diferença, e a desigualdade de uma forma mais eficaz que a discriminação
assumida!
Hoje a minha mãe perguntou-me de manhã se já tinha recebido
alguma prenda (por ser Dia da Mulher), respondi-lhe “gosto mais de igualdade,
guardem a prenda e ofereçam igualdade de género”!
Deixo-vos também uma carta escrita pela paraguaia Guadalupe
Acosta, que me emociona sempre que a leio:
“ONTEM MATARAM-ME
Neguei deixar que me tocassem e com um pau rebentaram-me o
crânio. Deram-me uma facada e deixaram-me sangrar até morrer. Como lixo,
colocaram-me num saco de plástico preto, enrolada com fita adesiva, e fui
largada numa praia, onde horas mais tarde me encontraram.
Mas, pior do que a morte, foi a humilhação que veio depois.
A partir do momento em que viram o meu corpo inerte, ninguém
perguntou onde estava o filho da puta que acabou com os meus sonhos, as minhas
esperanças, a minha vida. Não, preferiram começar a fazer-me perguntas inúteis.
A mim, podem imaginar? Uma morta, que não pode falar, que não se pode defender.
Que roupa estava a usar? Por que é que estava sozinha? Por
que é que uma mulher quer viajar sem companhia? Foi-se meter num bairro
perigoso, estava à espera de quê?
Criticaram os meus pais, por me darem asas, por deixarem que
eu fosse independente, como qualquer ser humano. Disseram-lhes que com certeza
estaríamos drogadas e fomos à procura, que alguma coisa fizemos, que deviam
ter-nos vigiado.
E só morta eu entendi que para o mundo eu não sou igual a um
homem. Que morrer foi culpa minha, que sempre vai ser. Porque se o título
dissesse “foram mortos dois jovens viajantes” as pessoas estariam a dar as suas
condolências e, com o seu discurso falso e hipócrita, com uma falsa moral,
pediriam pena máxima para os assassinos.
Mas, como sou mulher, é minimizado. Torna-se menos grave
porque, claro, eu estava a pedi-las. Fazia o que eu queria, encontrei o que
merecia por não ser submissa, por não querer ficar em casa, por investir o meu
próprio dinheiro nos meus sonhos. Por isso e por muito mais, condenaram-me.
E sofri, porque já não estou aqui. Mas tu estás. E és
mulher. E tens que aguentar que continuem a esfregar-te na cara o mesmo
discurso de “fazer-se respeitar”, de que a culpa é tua quando gritam e querem
pegar/lamber/chupar os teus genitais na rua por usares uns calções com 40 graus
de calor, de que se viajas sozinha és uma “louca” e muito provavelmente se
aconteceu alguma coisa, se espezinharam os teus direitos, tu é que te puseste a
jeito.
Peço-te que por mim e por todas as mulheres que foram
caladas, silenciadas e que tiveram as suas vidas e os seus sonhos destruídos,
levanta a voz. Vamos combater, eu ao teu lado, em espírito, e prometo que um
dia seremos tantas que não haverá quantidade de sacos de plástico suficiente
para nos calar.”
ps: Decidi chamar a este post "Aequalitas" que é igualdade em latim.
XOXO
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